​A BALEIA AZUL: O QUE NOSSOS JOVENS ESTÃO NOS DIZENDO?

31 de Agosto, 2017

A BALEIA AZUL: O QUE NOSSOS JOVENS ESTÃO NOS DIZENDO?

Recentemente, o jogo da baleia azul chocou e atraiu a atenção do mundo. De nome inocente, esse jogo se mostrou uma proposta tentadora para os nossos adolescentes onde o último desafio é cessar a própria vida. Desta forma, o tema do suicídio de jovens foi escancarado pela mídia e fez com que muita gente perdesse o sono.

A infeliz notícia é que este tema não é nenhuma novidade: o suicídio entre jovens de 12 a 21 anos tem uma taxa que cresce a níveis assombrosos. Somado a outras práticas, como o cutting e a roleta russa, o que temos é um verdadeiro problema de saúde pública. Somos deixados com as inquietantes questões: por que nossos jovens arriscam suas vidas de modo tão precoce? O que é que não estamos escutando?

Nós não gostamos de falar de morte, menos ainda quando é de nossos jovens e crianças. Temos medo que eles morram e que junto morra tudo o que temos de mais precioso: a nossa esperança no futuro. Por isso, os protegemos. Mas a verdade é que a maioria dos pais e escolas estão mais dispostos a controlar do que realmente a escutá-los. Criamos cercas e muros e uma série de proibições, mas evitamos falar sobre assuntos que nos deixam com o coração apertado.

Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos – já dizia Freud no século passado. Falam as pontas dos dedos, os cortes e as mortes. Quando a voz cessa, o corpo entra em ação para contestar. A adolescência é uma fase limite onde não se é adulto e nem criança. É um período onde se avança perigosamente para encontrar uma borda que defina quem se é, onde o desafio se apresenta como uma atraente forma de autoafirmação.

O que o jovem precisa é testar os limites para descobrir quem realmente é. Ao invés de falar sobre isso, nós trancafiamos nossos jovens atrás de grades e pesadas listas de obrigações, com a esperança de que a adolescência passe e eles se tornem adultos saudáveis. Construímos, assim, um mundo seguro, mas estéril. Estamos deixando nossos jovens sozinhos com suas emoções no período em que elas são mais difíceis.

O que a baleia escancarou foi a falha que criamos na comunicação. Foi de que nós nos esquecemos que, não sendo nem crianças e nem adultos, nossos jovens ainda precisam de alguém que ocupe o lugar de mediar a sua relação com o mundo. Nós esquecemos que o nosso papel como pais e como escolas, para além de ensinar, é escutar e falar sobre a vida e sobre o que sentimos.

Precisamos falar sobre o suicídio.


Luiz Mateus Pacheco Psicólogo do NAP